quinta-feira, 4 de julho de 2013

A Mulher imperfeita

A mulher imperfeita cansou de ser menininha-do-papai. Mas adora ser uma criança quando se joga em meu colo. Gosto das meninas que me abraçam no meio de um assunto qualquer como quem se coloca sobre meus braços e me exige para ajudá-la em seu caminho. Ela não não sabe pedir ajuda, nem reclamar atenção. Mas me grita com os olhos mudos um amor-me-ajuda-com-o-controle-da-TV ou coisa assim que é mais real do que qualquer berro desesperado.

A mulher imperfeita tem um quê de Maria Flor com a Marla Singer, do “Fight Club”. Ela sabe que está atrasada, mas nem se importa com o horário. O relógio que se adapte. O mundo que gire mais devagar, enquanto ela ainda está escolhendo os vestidos que ela tirou do armário e arremessou por cima da cama, uns oitocentos dele, mas ela jura não ter roupa adequada para sair comigo está noite.

Ela é independente, daquelas que pagam a conta do bar, dirigem automóveis melhores do que eu e se resolvem sem a ajuda de ninguém. Mas enlouquece quando vê uma barata ou coisa assim só para precisar um pouquinho de mim, sabe? A mulher imperfeita come chocolates sem olhar a tabela de calorias ou algo do gênero. Quando eu arroto, ela sorri envergonhada. Me chama de porco, mas quando bebe uns refrigerantes a mais, arrota, também.

A mulher imperfeita veste calça jeans em dias quentes porque esqueceu de depilar as pernas. Prende o cabelo quando está com preguiça de penteá-lo. E só faz as unhas meia hora antes de algum encontro especial. A mulher imperfeita me diz coisas sem pensar. Puxa uns assuntos sem nexo e pouco se importa pela última pergunta que fiz. Ela quer falar sobre a tal banda que ouviu. Ou sobre o tal filme do Woody Allen que viu. Ou sobre a última prova que ela tomou bomba na faculdade. Mas sabe me ouvir, também. Quando estou chateado, ela me dá um beijo na testa como quem diz dá-cá-tua-tristeza e me prepara uma pizza de mentirinha porque ela não tem talentos culinários para fazer algo mais sofisticado.

Na mulher imperfeita, eu encontro aquela gordurinha à mais no quadril quando vou fazer cócegas que adoro. Ela usa calcinhas grandes sem cunho sexual aparente, mas que me atiçam mais do que qualquer lingerie vermelha. Tornozelos finos são divertidos. Pés feios, também. A mulher imperfeita tem pés feios, mas bem cuidados. Tem uns joelhos desconexos e umas coxas que almejam ser grossas. A mulher imperfeita vai muito além do conjunto da pele, entende?

A mulher imperfeita aderiu os tênis, as blusas largas e as saias longas. Ela aceita ser o que é e lhe permite mudar quando tem vontade. A mulher imperfeita adora os erros do mundo e tem insônias com os meus. Grita comigo me pedindo para melhorar e, depois, me beija deliciosamente como quem diz não-consigo-ficar-brava-contigo-seu-idiota. A mulher imperfeita é aquela perfeita para mim.

Hugo Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário